domingo, 4 de julho de 2010

Profissão 4: O fabricante de rodas d'água

Os olhos azuis de seu Horácio parecem perdidos em um mundo de imagens e lembranças. Claros e brilhantes, deixam transparecer a alegria que o urussanguense sente em poder mostrar o que fez durante décadas. Aos 73 anos, ele reside no bairro Palmeira do Meio e sempre trabalhou com marcenaria. Porém, em dezembro de 2009, sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC) que, ainda hoje, o impede de exercer o ofício. Os movimentos das mãos foram comprometidos, assim como a fala. Ele tenta conversar, mas não consegue. Tenta articular uma frase, mas é em vão. De repente, seu rosto muda de expressão. Pode-se perceber o esboço de um sorriso que, misturado ao brilho do olhar, traz uma sensação de carinho e compaixão.

Seu Horácio trabalhou em marcenaria desde criança. Com ajuda dos pais e irmãos, fabricava grandes rodas d’água. Como na época não havia energia elétrica, essas rodas eram as responsáveis por mover os moinhos e as atafonas. Geralmente eram construídas próximo dos rios e, como facilitavam o trabalho, tornavam a produção mais rápida. Atualmente não são mais necessárias, o que dificulta encontrar alguém que as faça, mesmo em tamanho menor. Além das rodas, o urussanguense também trabalhava na produção de serras, pilões e outros utensílios para agricultores. Foi através dessas atividades que ele conseguiu sustentar a família, dando tudo quanto ela necessitava para viver bem e com dignidade. É casado com dona Adelaide há 48 anos e, mesmo com os problemas de saúde, parece ser feliz. Está sempre ladeado pela esposa e pelos quatro filhos e seis netos.

Quando se aposentou, há 6 anos, seu Horácio não se acomodou. Como gostava do que fazia, continuou produzindo peças em madeira. “Para não ficar parado, ele resolveu fazer estes objetos, mas em tamanho menor. Vendeu todas as ferramentas que tinha e comprou outras, especiais para a fabricação de miniaturas. Dessa forma, os clientes dele deixaram de ser os donos de serrarias e moinhos e passaram a ser aqueles que gostam de ver a casa ou sítio com uma peça de decoração diferente”, revela dona Adelaide.

Os instrumentos de trabalho se encontram no porão junto de algumas peças inacabadas. Um círculo de aproximadamente um metro de diâmetro fica em um dos cantos. Ele era a base de uma roda d’água que estava sendo fabricada. No mesmo espaço, tábuas e pedaços de madeira parecem estar à espera do profissional que, através de um movimento positivo com a cabeça, garante que ainda irá retornar à atividade. Ao lado, há outras ferramentas em um armário, quadrado e pequeno, preso à parede. Tudo no local foi feito de madeira pelas mãos de seu Horácio. As mesas, a serra-fita, a pica-pau, o pilão, o armário, a roda d’água...

Aos poucos, os movimentos das mãos estão sendo recuperados. No entanto, a fala continua comprometida. Mas não é isso que fará seu Horácio e dona Adelaide perderem a esperança. A mulher acredita piamente na recuperação do marido. Ele, por sua vez, demonstra confiança de que isso realmente vai acontecer. O progresso é lento, mas contínuo. Hoje, o marceneiro já não tem as mãos sujas da serragem. As roupas já não ficam manchadas de óleo e até os calos que possuía, desapareceram. Porém, mantém o mesmo brilho nos olhos e a mesma vontade de viver e trabalhar que tinha que tinha há anos.

Um comentário:

Anônimo disse...

quanto fica uma roda dagua co 2,metros queria saber o preço. jose augusto...gfvideo@bol.com.br espero reposta grato.

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