domingo, 4 de julho de 2010

Profissão 5: A tocadora de sinos

Terezinha Kamola Costa veio para Urussanga em 1959, quanto tinha apenas oito anos. A família da menina foi desestruturada após o falecimento da mãe. Sem saber o que fazer, seu pai chegou a dar os outros dois irmãos. Mas Kamola foi trazida pela avó que lhe acomodou no antigo orfanato Paraíso da Criança. Essa era a melhor opção para que fosse alimentada e tivesse acesso à educação. Na época, a instituição que foi fundada pelo Monsenhor Agenor Neves Marques, era dirigida por freiras e também funcionava como escola e creche. Quanto às crianças internatas, voltavam para a família assim que alguém assumisse a guarda com condições plenas para tal atitude.

No caso de Kamola, manteve o contato com a família somente enquanto a avó era viva, permanecendo no orfanato durante treze anos. Até que, em 1971, se casou com o mecânico José Lourival Costa, com quem tem três filhos. O fato de constituir família não a afastou do orfanato. Ao contrário, passou a ter um contato maior com as crianças e a ajudar nos eventos. Além disso, em 1978, as freiras deixaram a instituição, o que impossibilitou de continuar funcionando como escola e creche. Dessa forma, Kamola sentiu ainda mais necessidade de manter contato com a casa. Encarou as atividades no orfanato não apenas como seu trabalho, mas como uma forma de gratidão.

Como o Paraíso da Criança era uma instituição católica e que ficava perto da Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição, era comum que seus funcionários se envolvessem com funções religiosas. Os capelões Egídio Desan e Adão Bertió eram os responsáveis pelo toque dos sinos da capela. Porém, chegando a uma idade avançada, perceberam que deveriam ensinar a atividade para uma pessoa mais jovem. Kamola se prontificou a aprender. Desde então, toca diariamente um dos sinos às 6, 12 e 18 horas. Quando falece alguém da cidade, o sino principal é acompanhado por um menor que dá o efeito “repique”, resultando um som mais triste. Porém, em datas festivas, como o natal e a páscoa, conta com a ajuda de uma outra pessoa para que consiga tocar os quatro sinos, transmitindo alegria.

Com a mesma dedicação de trinta anos atrás, Kamola continua sendo a responsável pelo toque dos sinos. Para ela, a atividade consiste em uma forma de comunicação. Argumenta dizendo que, ao contrário de um anúncio no rádio, todos escutam os sinos. Logo, ficam alerta e tentam se informar a respeito do que aconteceu. Quando não tinha Corpo de Bombeiros na cidade, eram os sinos que mobilizavam a sociedade para socorrer pessoas e bens durante os incêndios. Também lembra que, segundo a tradição, o toque dos sinos serve para informar sobre a formação de grandes tempestades e, ao mesmo tempo, abençoar e proteger as pessoas.

Quanto ao antigo orfanato, atualmente é intitulado Casa Lar e acomoda apenas sete crianças. Como não poderia ser diferente, Kamola permanece lá. Diz sentir saudades da algazarra de mais de 45 meninas que moravam ali na sua infância. Ao contrário disso, observa o pátio deserto e o parquinho enferrujado. O limo nas lajotas e as paredes descascadas denunciam a carência do local. Ao invés de cantigas de roda, pode-se ouvir o som de alguns homens trabalhando no telhado para impedir as goteiras. Apesar dessas condições, as responsáveis pela Casa Lar tentam animar o local, de acordo com sua simplicidade. Prova disso é a decoração com fotos de crianças e anjinhos de gesso na parede do refeitório. Kamola diz ainda, que o número de crianças não importa. Ainda que tivesse apenas uma criança, a bondosa tocadora de sinos estaria ali para lhe oferecer assistência e carinho, da mesma maneira que recebeu.

Nenhum comentário:

Postar um comentário