domingo, 4 de julho de 2010

Profissão 3: O alfaiate

Desde cedo é possível ouvir o som inconstante da Vigarelli com mais de meio século de uso. A máquina de costura se tornou companheira de Pedro Paulo Magdalena há trinta anos e continua funcionando perfeitamente. Os intervalos do som que é música aos ouvidos do alfaiate, acontecem à medida que ele vai posicionando a peça de roupa para consertar. Em um dos pulsos, usa uma pulseira com um círculo almofadado onde são espetados alfinetes. O objeto é conhecido como relógio de alfaiate e auxilia no momento de tirar medidas. E falando em medidas... Em momento nenhum Magdalena se separa de uma fita métrica que acomoda no pescoço. Outros instrumentos que caracterizam esse ambiente de trabalho são dedais, régua, ferro de passar e giz de alfaiate.

Entre uma entretela e outra, Magdalena comenta que, embora seu pai trabalhasse na agricultura, incentivava os quatro filhos a aprender outras profissões. Para o agricultor, aquele era um trabalho difícil e que trazia pouco retorno financeiro. Como era cliente da antiga alfaiataria Confecções Piva, conhecia o alfaiate Antônio Halp que, certa vez, comentou sobre a necessidade de pessoas para trabalhar. Animado com a ideia, conversou com Magdalena sobre a oportunidade. Na época, Magdalena tinha 16 anos e cursava o ensino fundamental. Como o estabelecimento ficava a caminho da escola, o jovem começou faltar às aulas para aprender as atividades de um alfaiate.

No início, Magdalena apenas alinhavava entretelas e pregava bolsos nos paletós. Posteriormente, começou a fazer coletes e a cortar mangas. Com o passar dos anos, essas simples funções contribuíram para que seu talento fosse reconhecido e se tornasse sócio das confecções. Ele lembra que, durante o inverno, os pedidos eram tantos que começava a trabalhar às três horas da manhã. Logo em seguida, garante que o esforço valeu a pena, pois a sociedade durou mais de duas décadas. Só terminou porque o senhor Antônio Halp decidiu voltar para sua terra natal, Araranguá. Desde então, Magdalena trabalha em sua própria residência. Tem consciência que o espaço é pequeno, mas, ainda assim, aconchegante.

A todo tempo, o alfaiate demonstra estar preocupado com a organização do local: amontoa os papéis espalhados, repõe as gravatas no suporte, tira o pó do manequim e separa as camisas na prateleira de acordo com as cores. Para evitar um trabalho maior, o espaço do estabelecimento é marcado por uma cortina que separa o resto da casa. Também é impossível não observar as ilustrativas notas de R$100 que foram anexadas à antiga Vigarelli com fita adesiva. Para muitos, elas só revelam o quanto Magdalena é supersticioso, pois a crendice promete contribuir para o sucesso e prosperidade do trabalho. Porém, o profissional vai mais além. Segundo ele, a facilidade de encontrar roupas prontas tem tornado muito difícil a sobrevivência como alfaiate e, nesse caso, toda ajuda é bem-vinda.

Como a produção baixou, Magdalena sentiu necessidade de buscar outras atividades. Passou a trabalhar como radialista e presidente da APAE onde sua esposa é professora. Porém, o que realmente gosta é de ser alfaiate. Para ele, não há nada melhor que cortar calças, paletós e fazer reformas em geral. Tem orgulho desse trabalho e garante qualidade. Por outro lado, lembrar da grande quantidade de alfaiates que havia na cidade lhe aperta o coração, pois hoje é o único. Também não conhece uma pessoa se quer que gostasse de aprender. Mas, de qualquer forma, continua cuidadosamente cortando e recortando tecidos com uma tesoura de ferro que pesa quase 1 kg, presente do saudoso senhor Antônio Halp, a quem sempre será grato.

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