terça-feira, 24 de novembro de 2009

Uma infância marcada pela dor

Cabo de guerra, cantigas, cabra-cega e pular corda. Essas e outras brincadeiras continuam a proporcionar momentos felizes para muitas crianças. A infância é uma fase onde nos sentimos cheios de vida. Tudo é muito colorido. Achamos graça de qualquer coisa. Fazemos castelos de areia, bolinhos de lama e não colocamos limites para os nossos sonhos. Nessa fase, o tempo passa mais depressa. Quando menos percebemos, o dia passou. Porém, depois de um banho quentinho, temos o aconchego dos braços de uma mãe que nos dá carinho e nos coloca para dormir. Abraçamos o travesseiro com força e sentimos o agradável perfume da fronha recém lavada. Adormecemos e temos lindos sonhos.

Pensamentos como esses povoam nossas mentes. Segundo nosso ponto de vista, a infância é uma das fases mais alegres da vida. Seríamos egoístas por termos recebido amor de nossa família e acabarmos esquecendo que nem todos tiveram essa dádiva? O jornalista José Louzeiro no livro Infância dos mortos nos leva a essa reflexão. Ele conta a história de um grupo de garotos do Rio de Janeiro que se envolve no tráfico de drogas para sobreviver. Eles não têm família, nem educação, mas a perspectiva de crescer no mundo do crime.

A narrativa começa no momento em que Dito, Manguito, Fumaça e Pichote estão passando dentro de um cemitério. O objetivo deles é encurtar o caminho até a birosca onde vão encontrar o traficante Cristal. Porém, foram confundidos com ladrões de mármore, fazendo com que os vigias atirassem no menor deles, Pichote. Deixando o corpo do amigo, os outros conseguem escapar. Na birosca, Cristal oferece uma quantia em dinheiro para que os garotos levem drogas a São Paulo. Paga parte do valor durante a negociação, mas o restante eles receberão de uma moça chamada Débora no ato da entrega.

Em São Paulo, após entregarem a encomenda, são surpreendidos pela polícia. Percebem que tudo era armação, pois nem tinham recebido o restante do dinheiro. Motivados pelo ódio, encontram uma forma de fugir e se vingam de Débora. De volta ao Rio, tratam de reunir seus amigos: Castigo de Mãe, Rapadura, Alfinete, Figurinha e Encravado. Eles precisam “acertar as contas” com Cristal. Enquanto não o localizam, tentam trabalhar em uma feira. Oferecem ajuda às senhoras que levam suas compras em troca de alguns tostões. Logo, se sentem desvalorizados e julgam ganhar muito pouco.

Apesar da vida agitada que levam, os garotos precisam de um esconderijo seguro. Então, descobrem uma caverna próxima à praia e decidem fazer dela um lar. Retiram as pedras, limpam o local e até pensam em comprar colchões para estender sobre a palha seca. Estão animados, pois pela primeira vez vão ter uma casa. Porém, algo que não esperavam aconteceu. Manguito foi pego pela polícia e, com certeza, será pressionado até revelar o paradeiro do grupo. Desmotivados, deixam o local.

Enquanto não se vingam de Cristal, continuam tentando ganhar dinheiro fácil. Sabem que a prostituição pode ser algo lucrativo, então entram em acordo com algumas garotas. Elas têm o papel de seduzir homens pelas ruas. Já os moleques, têm o papel de surpreender os marmanjos levando todo o dinheiro que tiverem. Entre uma trapaça e outra, os meninos vão se separando e a polícia levando um a um para o xadrez. Talvez o momento mais emocionante do livro seja quando Dito está preso em uma colônia agrícola tendo alucinações causadas por uma sede incontrolável. Ou ainda, o momento que Cristal foi assassinado.

Enfim, a obra Infância dos mortos nos mostra um lado da criminalidade que desconhecíamos. Os marginais formam verdadeiras quadrilhas para a exploração das crianças mais pobres. Em algum momento, o autor questiona se vale a pena até mesmo dar algum tipo de esmola. Quem estaria atuando por traz dessa criança? Se ofertarmos alguns trocados, não estaremos contribuindo para a exploração da mesma? Pode ser uma criança que abriu mão de sua vida, se submetendo a algum marginal. Em outras palavras, que vive sem viver. E, segundo o livro, a cada dia, se prepara para matar ou morrer.

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