terça-feira, 6 de outubro de 2009

Análise do filme Alice no país das maravilhas

Walt Disney era fascinado pelo livro Alice no país das maravilhas de Lewis Carrol. Em 1923, iniciou uma série de curtas-metragens onde Alice era uma menina de verdade e interagia com personagens e cenários animados. Desde o início, sua intenção era adaptar a obra de Carrol para o cinema, se tornando seu primeiro longa-metragem de animação. Acabou optando por Branca de Neve e os Sete Anões, mas a oportunidade de contar a história de Alice acabaria surgindo alguns anos depois. Em 1938, Disney registrou o título “Alice in Wonderland” e o trabalho preparatório para a realização do filme foi iniciado. Porém, os problemas econômicos gerados pela Segunda Guerra Mundial e as produções de Pinóquio, Fantasia e Bambi adiaram o projeto. Somente no final dos anos 40, a produção seguiu uma versão totalmente animada.

Alice no país das maravilhas foi lançado em 1951 sendo alvo de críticas. As platéias que admiravam a obra de Carrol estranharam a reprodução com seqüências e personagens modificados. O animador Ollie Johnston chegou a ser questionado se os artistas estavam sob o efeito de drogas enquanto trabalhavam. Porém, a dificuldade para adaptar os episódios foi devido ao grande número de coadjuvantes encontrados nos livros. Alguns deles tiveram suas características combinadas em um único personagem. Outros, foram simplesmente excluídos. Esse processo reduziu quase a metade dos personagens originais, havendo necessidade de realizar um bom trabalho de edição. Apesar de muito esforço, o filme foi um fracasso nas bilheterias.

Alice no país das maravilhas levou cerca de cinco anos para ser concluído, mas esteve em desenvolvimento por cerca de dez anos antes de entrar em produção ativa. Walt Disney expressou seu descontentamento com o filme, dizendo que o mesmo não tinha coração. Além disso, fez desse o primeiro longa-metragem animado dos seus estúdios a ser exibido na TV. Ele sempre foi relutante a essa idéia, mas devido a sua decepção, acabou permitindo. O processo de edição da TV reduziu a história para sessenta minutos. Porém, em 1974, a Disney recolheu diversas cópias de locação tentando relançar o filme nacionalmente nos cinemas. Dessa vez, passou a ser admirado pelas novas gerações.

Durante a produção, cerca de trinta canções foram escritas e jamais usadas. A primeira do filme seria Beyond the Laughing Sky onde Alice sonhava com um mundo diferente do que vivia. Porém, além de ser uma canção bastante lenta e poder cansar a platéia, Kathryn Beaumont, que fazia a voz de Alice, teve dificuldades de interpretá-la. Nesse caso, a canção foi substituída por In a World of My Own. Enquanto Beyond the Laughing Sky teve sua letra reescrita, se tornando The Second Star to the Right de Peter Pan.

Opinião do Crítico

Alice no país das maravilhas faz parte de uma era de ouro da Disney. Tornou-se um verdadeiro clássico, permanecendo inesquecível ao lado de Cinderela e Peter Pan. Na época, a Disney era a única grande produtora de longas-metragens de animação. Nesse caso, não havia chances para concorrência. Além disso, o filme foi baseado em um dos livros infanto-juvenis mais famosos do mundo e possui as impressões digitais do próprio Walt Disney, desde as técnicas de animação até os diálogos.

Uma perfeita combinação de letra e melodia embala os créditos iniciais. Porém, essa linda música merece uma nova gravação, a original está muito antiga. Logo nas primeiras cenas, podemos observar a fidelidade dos animadores em relação ao livro, desde as características do jardim de margaridas até expressões como “Quase se apagaste como uma vela”. Quando Alice entra na toca do coelho e cai no abismo, seu vestido magicamente se transforma em um pára-quedas. Esse foi um toque especial dos animadores, o livro só relata que a menina caía devagar.

Chegando ao país das maravilhas, ela encontra casas, móveis e objetos com proporções exageradas. Os cenários são bem simples, em alguns momentos, apenas uma nebulosidade que muda de cor aleatoriamente. A cena em que Alice conversa com as flores não está no livro. Porém, talvez seja a mais bela. Tulipas, violetas e lírios formam uma banda. A rosa vermelha é a regente, enquanto cada uma das outras flores simula um instrumento ao cantar “O jardim das flores”. Nesse cenário, podemos dar destaque à rosa branca cercada por teias de aranha com gostas de orvalho, o que lembra um véu de noiva. Ou ainda, à margarida deitada sobre uma teia, como se descansasse em uma rede.

Impossível não perceber a arte árabe na cena da lagarta. Os sapatos desse personagem tinham as pontas curvadas para cima, semelhante aos do Aladdin. Além disso, havia detalhes desenhados nas folhas do jardim e a música contribuía para caracterizar a cena. Prosseguindo sua busca pelo coelho, Alice passeia entre árvores com placas que indicam muitos caminhos, fazendo menção ao seu encontro com o Gato Risonho que, em seguida, a deixaria confusa sobre onde quer ir.

Um momento marcante é quando Alice está triste por ter saído de casa. À sua volta, estão os figurantes mais estranhos que você pode imaginar. Entre eles, uma coruja com pescoço de sanfona. A menina lhes fala sobre a saudade que sente enquanto canta uma canção. Aos poucos, sob um efeito de fusão, os figurantes começam a desaparecer, nos fazendo entender que ela ficaria sozinha. Para concluir, apesar dos momentos comoventes, não podemos negar que o roteiro é cansativo. Aparentemente, as cenas não têm finalidade, nem influenciam o final da história.

REFERÊNCIAS:
www.animatoons.com.br